quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

METODOLOGIA PARA OS TRABALHOS DA DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA


1 - TRABALHOS FEITOS EM CASA IMPRESSOS
1.1 – Os trabalhos devem ser impressos em papel A4 na cor branca ou parda (reciclado).
1.2 – O texto deve ser digitado:

  • Fonte (tipo de letra) Arial;
  • Tamanho da fonte nº 12;
  • Espaçamento entre as linhas 1,5. Para isso, entrar no item “parágrafo” da barra de ferramentas (em alguns programas é preciso acessar antes o item “configurações”) depois procurar a janela “espaçamento”, selecionar “1,5 linhas” e clicar em "ok".
  • Corpo de texto deve ser justificado(selecionar todo o texto e pressionar Ctrl + j).
 1.3 - Para destacar uma palavra deve ser usado apenas o recurso negrito.

 1.4 -  Palavras estrangeirasgírias ou que sejam citações de outra pessoa, devem estar em itálico.
Exemplo de uso de uma palavra estrangeira:
Hoje é indispensável para a elaboração de uma pesquisa o uso de materiais disponíveis on-line.

Exemplo de uso de uma citação:
Marx disse que a religião é o ópio do povo para criticar os líderes religiosos e a elite que se aproveitavam de sua influência sobre as massas para manipulá-las.

1.5 – O título deve estar em Arial 14 e em negrito para se destacar do texto.

1.6 – No final do trabalho deve estar sempre a fonte de pesquisa, conhecida como bibliografia. Isso significa citar o livro e/ou a página da internet usados para conseguir o conteúdo.

Caso a fonte seja um livro, colocar na ordem:
SOBRENOME, PRENOME. Título (em destaque): subtítulo (se houver e sem destaque). Edição (se houver). Local de publicação: Editora, data de publicação da obra. Nº de páginas ou volume. 
(Coleção ou série)

Exemplo de um livro com um único autor:
ROCHA, Aristides. O governo brasileiro e a política do século XXI. 3ª ed. São Paulo, Editora da USP, 2004.

· Exemplo de um Livro com mais de um autor:
LOURENÇO, Eva; MARCONI, Maria. Ensino Superior. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

Já para pesquisas cuja fonte é uma página da internet, deve constar na ordem:
Disponivel em: (o endereço da página), data de acesso: (data).

· Exemplo:
Disponível em: http://www.machadodeassis.org.br/ , acessado em : 16 de fevereiro de 2015.

1.7 – O trabalho deve ser identificado pelo nome completo do aluno ou alunos, número de chamada, série e turma.


  MODELO  DE CAPA PARA TRABALHO ESCOLAR

                   ..........................................................................................................................
                                       EE. PROF. SEBASTIÃO RAMOS NOGUEIRA
                                                         ENSINO MÉDIO







                                               TÍTULO DO TRABALHO


            TRABALHO SOLICITADO PELA    PROFESSORA  ................................ NA DISCIPLINA DE  LÍNGUA PORTUGUESA NO REQUISITO DE  NOTA  DO 1 BIMESTRE.









ALUNO..................................................N...............
SÉRIE............................
                                                     






                                                            LOCAL   
                                                             DATA    



 ...................................................................................................................................                        

                                         

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Informações sobre a obra Memorias Postumas de Brás Cubas

Contexto Histórico
  • Surgiu a partir da segunda metade do século XIX.
  • As ideias do Liberalismo e Democracia ganham mais espaço.
  • As ciências evoluem e os métodos de experimentação e observação da realidade passam a ser vistos como os únicos capazes de explicar o mundo físico.
  • Em 1870, iniciam-se os primeiros sintomas da agitação cultural, sobretudo nas academias de Recife, SP, Bahia e RJ, devido aos seus contatos freqüentes com as grandes cidades europeias.
  • Houve também uma transformação no aspecto social com o surgimento da população urbana, a desigualdade econômica e o aparecimento do proletariado.
NARRADOR
1a pessoa
 “defundo autor” 
 pressunção, egocentrismo 
 instabilidade, volubilidade 
  niilismo: pessimismo acentuado

Personagens 
A família
  irmã Sabina: disputa de herança 
 cunhado Cotrim: falta de escrúpulos da elite
 As mulheres Marcela: prostituta de luxo
                      Eugênia: pobre, coxa 
                      Virgília: amante 
                      Nhã-Loló: pretendente
 Escravos e dependentes Prudêncio: de oprimido a opressor 
                                          D. Plácida: marginalização do trabalho

SÍNTESE - RESUMO
Publicado em folhetim em 1880, na Revista Brasileira, e editado em livro no ano seguinte, Memórias póstumas de Brás é a autobiografia da personagem Brás Cubas, que, depois de morto, resolve escrever  suas memórias. Intitulando-se "defunto-autor", Brás Cubas propõe-se a fazer a retrospectiva de sua vida, o que realiza com o distanciamento crítico e irônico de quem já não se prende às convenções sociais.    
                 Assim, entre os fatos narrados, destacam-se: os amores juvenis de Brás Cubas por Marcela, uma mulher vulgar a quem ele amou e por quem foi amado durante "quinze meses e onze contos de réis", suas aspirações à vida literária e política; sua amizade com o filósofo Quincas Borba; o caso com Virgília - de quem quase se tornou marido, num casamento arranjado, e de quem mais tarde se tornaria amante; o casamento de Vigília com seu rival Lobo Neves.

ESTILO DE MACHADO DE ASSIS
          A escrita de Machado de Assis tem um estilo bastante peculiar, marcado pela erudição e pela ironia. Assim, o escritor refere-se frequentemente a passagens de obras clássicas, das quais era um leitor sistemático, adaptando-as para as situações de seus personagens e narrativas.
         A ironia fina presente nos textos, capaz de estabelecer ambiguidades e impasses que não se solucionam, causa um efeito de distanciamento em relação aos fatos narrados. Mas, ao contrário do que possa sugerir, essa postura distanciada não deve ser entendida como imparcial. Ao contrário, o distanciamento irônico que caracteriza o discurso de muitos dos narradores criados pelo autor favorece o estabelecimento de um ponto de vista crítico, corrosivo, que questiona a realidade e aponta as suas contradições.

         O ritmo fragmentado das narrativas e as constantes digressões dos narradores, que muitas vezes se desviam do assunto que estavam abordando para fazer esclarecimento ou críticas, exigem uma leitura atenta e levam o leitor a uma reflexão mais cuidadosa sobre a matéria narrada.


TRABALHO - MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

ROTEIRO DE LEITURA

TRABALHO DEVE SER ENTREGUE NO FINAL DE MARÇO DE 2015
OBRA :   MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
AUTOR: MACHADO DE ASSIS

INSTRUÇÕES
        RESPONDA  -     1º    parte
1.                                                               1  -Biografia: ( Machado de Assis )
2.                                                               2-  Contexto histórico:
3.                                                               3-  Narrador:
4.                                                               4-   Personagens:
5.                                                               5-    Estilos de Machado de Assis presentes na obra:


2º parte - Questões sobre a obra Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de  Assis
1.       (Fuvest-SP) O romance Memórias póstumas de Brás Cubas publicou-se num momento significativo da literatura brasileira, tanto para a carreira de Machado de Assis, como para o desenvolvimento da prosa no Brasil. Tornou-se um  divisor entre quais períodos literários?

2.  Leia o  capítulo I  -  “Óbito do autor”.
 Explique a distinção entre “autor defunto” e “defunto autor” feita pelo Narrador.

3.Leia o capítulo XXXIII  - “Bem-aventurados os que não descem”
Ao conhecer Eugênia no alto da Tijuca, onde passava uma temporada depois da morte de sua mãe, Brás Cubas hesitou em descer (isto é, voltar) à cidade, onde o pai o esperava com uma noiva e uma carreira política.
Note que a palavra “pé” é insistentemente repetida no trecho.
a)      Qual o motivo dessa insistência?



b)      Como essa repetição antecipa a decisão de Brás Cubas entre voltar para a casa da família ou permanecer na Tijuca?


4. Lei a o capítulo CXV – “O almoço”
No trecho, o Narrador indica duas reações que poderia ter diante da partida da amada. Cada uma delas pode ser associada a uma escola literária. Quais são essas duas reações? A que escola cada uma pode ser associada? Justifique sua resposta.


5. Leia o capítulo  LXVIII - “O vergalho”
         Notas: Usar o vergalho, isto é, o chicote.
a)       Este trecho remete a episódio anterior, da mesma obra, no qual integram Brás Cubas e Prudêncio, então crianças. Compare sucintamente os papéis que as personagens desempenham nesses episódios.

      b)       Neste trecho, a variedade linguística utilizada pelas personagens contribui para caracterizá-las? Explique.

OBS; PARA FAZER  O TRABALHO PESQUISE AS SEGUINTES POSTAGENS;
1-CAPÍTULOS REFERENTES AO TRABALHO - MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS.

2- INFORMAÇÕES SOBRE A OBRA.

 3- METODOLOGIA PARA OS TRABALHOS DE LÍNGUA PORTUGUESA.

CAPÍTULOS REFENTES AO TRABALHO MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

CAPÍTULO 1
Óbito do Autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram-me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, — a filha, um lírio-do-vale, — e... Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha extinção.
— Morto! morto! dizia consigo.
É a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o voo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, — a imaginação dessa senhora também voou por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil... Deixá-la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos primeiros anos. Agora, quero morrer tranquilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e coisa nenhuma.
Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.

CAPÍTULO 33
Bem-aventurados os que não descem
O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora; foi o que eu fiz; lancei mão de uma toalha e enxotei essa outra borboleta preta, que me adejava no cérebro. Fiquei aliviado e fui dormir. Mas o sonho, que é uma fresta do espírito, deixou novamente entrar o bichinho, e ai fiquei eu a noite toda a cavar o mistério, sem explicá-lo.
Amanheceu chovendo, transferi a descida; mas no outro dia, a manhã era límpida e azul, e apesar disso deixei-me ficar, não menos que no terceiro dia, e no quarto, até o fim da semana. Manhãs bonitas, frescas, convidativas; lá embaixo a família a chamar-me, e a noiva, e o arlamento, e eu sem acudir a coisa nenhuma, enlevado ao pé da minha Vênus Manca. Enlevado é uma maneira de realçar o estilo; não havia enlevo, mas gosto, uma certa satisfação física e moral.Queria-lhe, é verdade; ao pé dessa criatura tão singela, filha espúria e coxa, feita de amor e desprezo, ao pé dela sentia-me bem, e ela creio que ainda se sentia melhor, ao pé de mim. E isto na Tijuca. Uma simples égloga. Dona Eusébia vigiava-nos, mas pouco; temperava a necessidade com a conveniência. A filha, nessa primeira explosão da natureza, entregava-me a alma em flor.
— O senhor desce amanhã? Disse-me ela no sábado.
— Pretendo.
— Não desça.
Não desci, e acrescentei um versículo ao Evangelho: — Bem-aventurados os que não descem, porque deles é o primeiro beijo das moças. Com efeito, foi no domingo esse primeiro beijo de Eugênia, — o primeiro que nenhum outro varão jamais lhe tomara, e não furtado ou arrebatado, mas candidamente entregue, como um devedor honesto paga uma dívida. Pobre Eugênia! Se tu soubesses que idéias me vagavam pela mente fora naquela ocasião! Tu, trêmula de comoção, com os braços nos meus ombros, a contemplar em mim o teu bem-vindo esposo, e eu com os olhos em 1814, na moita, no Vilaça, e a suspeitar que não podias mentir ao teu sangue, à tua origem...
D. Eusébia entrou inesperadamente, mas não tão súbita, que nos apanhasse ao pé um do outro. Eu fui até a janela. Eugênia sentou-se a consertar uma das tranças. Que dissimulação graciosa! que arte infinita e delicada! que tartufice profunda! e tudo isso natural, vivo, não estudado, natural como o apetite, natural como o sono. Tanto melhor! Dona Eusébia não suspeitou nada.

CAPÍTULO 68
O vergalho
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — "Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!" Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim nhonhô.
— Fez-te alguma coisa?
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!
Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjeturas. Segui caminho, a desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o episódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato, fino e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as sutilezas do maroto!

CAPÍTULO 115
O almoço
Não a vi partir; mas à hora marcada senti alguma coisa que não era dor nem prazer, uma coisa mista, alívio e saudade, tudo misturado, em iguais doses. Não se irrite o leitor com esta confissão. Eu bem sei que, para titilar-lhe os nervos da fantasia, devia padecer um grande desespero, derramar algumas lágrimas, e não almoçar. Seria romanesco; mas não seria biográfico. A realidade pura é que eu almocei, como nos demais dias, acudindo ao coração com as lembranças da minha aventura, e ao estômago com os acepipes de M. Prudhon...
...Velhos do meu tempo acaso vos lembrai desse mestre cozinheiro do Hotel Pharoux, um sujeito que, segundo dizia o dono da casa, havia servido nos famosos Véry e Véfour, de Paris, e mais nos palácios do Conde Molé e do Duque de la Rochefoucauld? Era insigne. Entrou no Rio de Janeiro com a polca... A polca, M. Prudhon, o Tivoli, o baile dos estrangeiros, o Cassino, eis algumas das melhores recordações daquele tempo; mas sobretudo os acepipes do mestre eram deliciosos.
Eram, e naquela manhã parece que o diabo do homem adivinhara a nossa catástrofe. Jamais o engenho e a arte lhe foram tão propícios. Que requinte de temperos! que ternura de carnes! que rebuscado de formas! Comia-se com a boca, com os olhos, com o nariz. Não guardei a conta desse dia; sei que foi cara. Ai dor! Era-me preciso enterrar magnificamente os meus amores. Eles lá iam, mar em fora, no espaço e no tempo, e eu ficava-me ali numa ponta de mesa, com os meus quarenta e tantos anos, tão vadios e tão vazios; ficava-me para os não ver nunca mais, porque ela poderia tornar e tornou, mas o eflúvioda manhã quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?